Você sabia?, crônica de Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro__


Fotografia: Carlos Monteiro

Você sabia?


             Que o peso total de todas as formigas na Terra é comparável ao peso de todos os seres humanos do Planeta? 

Que o elefante é o único mamífero, junto com o homem, que tem queixo. Ele também é o único a ter quatro joelhos e, assim como a tartaruga, o hipopótamo e o caramujo, não consegue pular?

“Você sabia? Rádio Relógio Federal, cultura e hora certa. Observatório do Valongo ao sinal...” e lá vinha a majestosa Íris Lettieri, a voz mais famosa dos aeroportos cariocas: dez horas, zero minuto, zero segundo... tic-tic-tic. O metrônomo marcava, segundo a segundo, o senhor da razão. Garantia o papo nas mesas dos bares quando, já alta madrugada, os assuntos passavam a ser a mais pura e debochada cultura inútil. Nunca esqueci a história dos quatro joelhos paquidérmicos e o queixo. A disputa era acirrada pelas ‘bobagens’ culturais. Parece que todos passavam o dia ligados na AM 580 Khz, prestando atenção redobrada quando, Tavares Borba, locutor oficial da ‘vinheta cultural’, mandava o celebre “Você sabia?”. Fico pensando: como podíamos impressionar alguém com esse papo verdadeiro, porém furadíssimo. Como? O fato é que impressionávamos!

A Rádio Relógio, concebida e fundada, em 1956, pelo radialista Cesar Ladeira, criador de referências artísticas como: "A Pequena Notável" para Carmen Miranda e "Rei da Voz" para Francisco Alves. Irradiava 24 horas por dia – o famoso 365/7/24, marcou época – sem trocadilhos, é claro!

Em tempos que não havia celulares, os relógios de pulso não eram tão comuns e baratos, nas ruas, poucos eram os relógios públicos – o mais famoso da Central do Brasil, nem sempre cravava o mesmo horário em suas quatro faces. Havia ainda os da Mesbla, no Passeio, o da Glória no bairro homônimo, da Carioca e de algumas relojoarias espalhadas pela cidade. A rádio relógio era fundamental. Era assim um despertador matinal da família carioca e ainda, de quebra, contribuía para nossa cultura geral, informações jornalísticas e questões de utilidade pública como o “aviso aos navegantes”.

Um de seus anunciantes mais presentes era a Galeria Silvestre: “Depois do Sol, quem ilumina seu lar é a Galeria Silvestre”. Quem não recorda? Aliás, a Galeria, no mar de quebradeiras que assola o centro, perdura até hoje, ligando as ruas Sete de Setembro à rua do Teatro, próxima à praça Tiradentes. Está lá iluminado os lares cariocas. (isso não é jabá, viu?!).

Histórias que marcaram época das madrugadas de chope, geladíssimo, servidos pelos garçons, Chimenez e ‘Ceguinho’, no Castelinho. Marcaram quando um dia ao amanhecer, escutei no Rádio 9 Band Philco Am-Fm Solid State Transglobe: “Você sabia? O leão é o animal que, durante o período de cio das fêmeas – dura de 2 a 4 dias –, copula dia e noite, a cada 15 minutos. Algo em torno de 280 coitos por fêmea”. Mudou a minha vida. Fiquei com uma inveja danada do leão...

Você sabia?


                                                          
                                 

                                                     
                                                      
                                                       
                                                     
Fotografias de Carlos Monteiro




Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.