Maresia corrói os dentes, de Érica Magni



“Maresia corrói os dentes”: Érica Magni lança livro que mistura poesia e prosa para narrar corrosão, resistência e apagamentos sociais


A poeta e jornalista Érica Magni lança na Flip 2025 seu terceiro livro, “Maresia corrói os dentes” (Sophia Editora, 2025), uma obra que tensiona os limites entre poesia e prosa para dar forma à dor, à resistência e à beleza nas margens esquecidas do Brasil. Com lançamento oficial na Casa Gueto, em Paraty–RJ, entre 30 de julho e 3 de agosto, e uma sessão de autógrafos prevista para o dia 13 de setembro, às 18h, na Partisan Da Lapa (Rua Moraes e Vale, 31), no Rio, a obra marca mais uma etapa da produção literária engajada da autora carioca.

Ambientado em Monte Alto, distrito de Arraial do Cabo–RJ, o livro nasce de três anos de imersão da autora no território, em convívio cotidiano com moradores, pescadores, ambulantes e casas corroídas pelo tempo e pela maresia. “Escolhi esses temas porque refletem uma urgência coletiva: a preservação de lugares que estão sendo apagados”, afirma Érica.

A narrativa híbrida do livro (entre a poesia e a prosa) é o instrumento com que a autora capta e devolve à linguagem a complexidade das bordas. Como explica no texto de posfácio a escritora Bruna Mitrano: “Num exercício de olhar para fora olhando para dentro — e vice-versa —, ‘Maresia corrói os dentes’ vai poetizar a morte, o medo, o abandono e outros muitos temas delicados. É uma experiência emocionante e assustadora — embora valha o risco — seguir pelas linhas que a autora traça.”

A maresia, aqui, é metáfora central: representa o tempo, o abandono, a ação política da negligência — e, paradoxalmente, o que permanece. “O livro fala sobre corrosão e permanência. Sobre o que resiste mesmo quando tudo tenta apagar”, define Érica. O sal que corrói também marca, deixa cicatriz, inscreve a história nos corpos e nas estruturas. “A maresia aparece como aquilo que destrói lentamente, mas também como o que deixa marcas, do que insiste”, completa a autora.

Com influências que passam por Conceição Evaristo, Hilda Hilst e João Cabral de Melo Neto, Érica constrói uma linguagem fragmentada, sensorial e afetiva, com estrutura não linear. Os capítulos se organizam como ondas — ora calmas, ora violentas — num ritmo que evoca o próprio mar, símbolo constante no livro.

“Minha escrita é fragmentada, sensorial e afetiva”, diz Érica, que traduz em palavras o vaivém das marés e a textura da vida em um lugar onde o tempo e o espaço parecem andar em desacordo com os centros urbanos. As vozes que ela registra e amplifica são de quem muitas vezes é silenciado, como pescadores que resistem à especulação imobiliária ou moradores que veem suas casas desaparecerem no avanço do mar.


Um dos episódios mais impactantes do livro é o incêndio que destruiu a casa da autora em Arraial do Cabo. Tratado com crueza e lirismo, o acontecimento dá o tom do livro. “O livro começa com o fogo, mas termina com o sal — ambos corrosivos, ambos transformadores”, escreve Bruna Mitrano, no posfácio. A destruição, aqui, não é ponto final, mas ponto de partida para uma nova forma de olhar o mundo.

Fotografia: Elissa Olveira


Érica Magni (Rio de Janeiro, 1986) é poeta, jornalista e criadora do podcast Rádio-Carta Mulher. Autora de "Poérica" (Editora Cousa, 2019) e "Areia na Olhota" (Editora Pedregulho, 2023), já colaborou com projetos ligados a comunidades indígenas e periféricas, como o livro "Diário de Área" (2021), sobre a etnia Yanomami. Vive entre a Região dos Lagos e Teresópolis, onde continua a escrever “tudo que a atravessa”. 



Agenda de lançamentos

Paraty (RJ)
Lançamento durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2025
Local: Casa Gueto (Rua Benedito Telmo Coupê, n.º 277 — Antiga Rua Fresca — Centro Histórico)

Data: de 30 de julho a 3 de agosto

Rio de Janeiro (RJ)
Sessão de autógrafos com a autora
Data: 13 de setembro de 2025
Horário: a partir das 18h
Local: Partisan Da Lapa (Rua Moraes e Vale, 31, Lapa)