Alvorecer | Carlos Monteiro

 por Carlos Monteiro


                                                          
                                                      
                                                         
                                                                      
                                                         
                                                        
                      
Alvorecer

 

No “Alvorecer”, a música com mesmo título na composição de Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara: “… Quando o dia amanhece / Minha mágoa se esconde / A esperança aparece / O que me restou da noite…”, pareceu que Clara, filha de Inhansã e Ogum, brilhou toda esta semana que, concluída ontem, traz esperança para um novo sol.

Nestes dias, a alvorada lhe prestou uma homenagem. Em tons de vermelho o firmamento clareou, resplandeceu, iluminou.

Poucas nuvens encimavam a Cidade Maravilhosa de forma errante, nenhum pássaro de aço apareceu ruidoso. Apenas o canto do sabiá-laranjeira ecoou, as fragatas, numerosas fragatas ensaiaram seu balé e os biguás tornaram o firmamento mais efervescente em movimentos cadenciados.

O alvi-azulado se fez presente no firmamento. Os vermelhos de Ogum estiveram por entre as nuvens. O Cristo, abençoou a Cidade Maravilhosa açambarcando-a em seus braços. As luzes da comunidade brilharam como se salpicassem de estrelas o asfalto, pirilampos de amor.

O Sol brilhou, mais uma vez. Soberano como sempre. Esgueirou-se por entre as montanhas, surgiu, subiu. Tem o céu como limite até que chegue à noite, ‘pra’ lá do luar, onde moram as estrelas.

Explodiu em luz!

A fragata solitária, com açúcar e afeto, se apresentou, clareou!

Que ela nos cante mais alto, que traga ao carioca, ao brasileiro, ao mundo, a alegria de sorrir novamente.

O Rio de Bandeira: “… Cidade de sol e bruma, / Se não és mais capita / Desta nação, não faz mal: / Jamais capital nenhuma, / Rio, empanará teu brilho…”. O Rio de Drummond: “…Isto é janeiro e é Rio de Janeiro / janeiramente flor por todo lado / Você já viu? Você já reparou / Andou mais devagar para curtir / essa inefável fonte de prazer…”.

O Rio de Mendes: “… O Pão de Açúcar é um cão de fila todo especial/que nunca se lembra de latir pros inimigos que transpõem a barra/e às 10 horas apaga os olhos pra dormir.” O Rio de todos os poetas.

Que possamos ter olhos para ver toda maldade desaparecer… Uma nova semana, uma nova ordem! Rir de janeiro a janeiro!



Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.