por João Oliveira Melo |
Videodrome: a síndrome do vídeo (1983) é um filme canadense de ficção científica e body horror, dirigido e roteirizado por David Cronenberg com trilha sonora composta por Howard Shore e estrelado por James Woods e Debbie Harry (vocalista da banda norte-americana Blondie). O longa conta a história de Max Renn, presidente de uma pequena emissora de televisão que pirateia filmes pornográficos. O responsável por piratear é seu estagiário Harlan, que o convoca para assistir uma transmissão de um vídeo de tortura transmitido na Malásia chamado Videodrome. Max assiste à transmissão e acredita que será o futuro das mídias, deixando-o obcecado e interessado pela origem do programa. O protagonista não prevê que sua obsessão pelas fitas irá causar alucinações que irão deixá-lo à mercê entre realidade e ilusão.
Elementos filosóficos do filme
"Masha: Videodrome. O que você vê naquele programa é real. Não é atuação. É TV snuff.
Max Renn: Eu não acredito.
Masha: Então, não acredite.
Max Renn: Por que fazer isso de verdade? É mais fácil e seguro fingir.
Masha: Porque tem algo que você não tem, Max. Tem uma filosofia. E é isso que o torna perigoso."
A obra pode ser interpretada em várias correntes filosóficas:
George Berkeley (1685–1753) filósofo e bispo irlandês, não acreditava na existência de objetos materiais; mas de ideias que existem quando alguma mente a percebe. Berkeley postulou que deveria existir uma entidade externa poderosa percebendo e criando ordem na nossa realidade que a nomeia de Deus. Em Videodrome um dos principais questionamentos é sobre o que é real ou delírio:
"Afinal, não há nada real fora da nossa percepção da realidade, certo?" — diz o personagem Brian O'Blivion.
Jean Baudrillard (1929–2007) filósofo e sociólogo francês, estabelece o conceito da hiper-realidade do utilizada no filme, que se refere ao processo de evolução das noções de realidade, levando a um estado cultural de confusão entre signos e símbolos inventados para representá-la. A hiper-realidade é vista como uma condição onde à compressão das percepções da realidade e ficção na cultura e na mídia se misturam nas experiências, de modo que não há mais uma distinção clara entre onde um termina e o outro começa.
Marshall McLuhan (1911–1980) filósofo canadense, influenciou o estudo de mídia e diretamente o diretor Cronenberg. Ele destacava que o meio de comunicação tinha mais importância que o conteúdo da mensagem, influenciando a percepção da realidade e se tornando extensão do ser humano. Um personagem influenciado pelas ideias de Mcluhan seria o Professor O’Blivion:
“A batalha pela mente da América do Norte será travada na arena dos vídeos, o Videodrome. A tela da televisão é a retina da mente. Portanto, a tela da televisão é parte da estrutura física do cérebro. Portanto, o que aparece na tela da televisão surge como pura experiência para aqueles que assistem. Portanto, a televisão é a realidade e a realidade é menos do que a televisão.” Frase do personagem explicando a natureza do Videodrome.
Videodrome é um marco no cinema cult e da ficção científica. A produção apresenta, de maneira alucinada, como as mídias modificam e transformam nossa realidade a partir dos nossos desejos. Mesmo lançado há mais de quarenta anos, a obra pode ser interpretada no contexto da era digital atual: algoritmos, realidade aumentada, inteligência artificial, computadores, jogos eletrônicos e celulares. O longa é recomendado para um público que seja interessado em horror e esteja preparado para conteúdos sexuais e violentos.
Assista no Prime Vídeo.
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