por Carlos Monteiro |
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Fotografias: Carlos Monteiro |
Memória (a)efetiva
Há
eterna criança que habitará, sempre, em nós. Vivi em um Rio de Janeiro muito
especial, em bairros que contaram a história da cidade e contribuíram, de forma
significativa, cada um à sua maneira, para o enriquecimento cultural da Cidade
Maravilhosa.
Da
Abolição, passando pelo Caju, por Santa Teresa, pelo Flamengo e chegando à
Ipanema, cada tem sua história deliciosa de infância, cheia de passagens
memoráveis, traquinagens e peraltices dignas de quem viveu sua infância e, em
alguns casos sobreviveu, às décadas de 1960 e 1970.
Foram
anos de chumbo e, ao mesmo tempo, anos de renovação, de novidades de modismos
ligados a marcas, não só de comportamento, mas, principalmente de consumo. A
geração parecia, de certa forma, uma cópia xerox um do outro.
Eram
as camisas Hang-tem com os dois pezinhos nas etiquetas, fabricadas na
Califórnia. Eram as calças Lee americanas de botões e cintura baixa, compradas
nas ‘importadoras’ da rua da Alfandega ou na boutique Lixo – uma espécie de
brechó que vendia roupas usadas vindas dos EUA. Havia até uniformes da guerra
do Vietnam. Era ao gosto de freguês; podiam vir com a ‘boca de sino’, aberta
com panos, muitas vezes diferentes ou com a boca fechada que mal entrava o pé.
Os
tênis variavam entre Bamba, Kichute que provocava um odor nada agradável nos
pés, o All Star vindo da década de 50 ainda dava as caras de forma mais tímida
e o Pampeiro, marca registrada da juventude bronzeada que batia ponto, com sua
prancha ‘fish’ monoquilhas ou biquilhas, no Arpoador ou no Píer.
Outro
acessório indispensável às meninas, eram os tamancos Dr. Scholl’s. Pau para
toda obra e momento da praia às festinhas, que aliás, eram muitas. Feitas em
casa com vitrolinhas, luzes apagadas, regadas a Coca-Cola ou os ‘hi-fi’ nos
clubes comandados pelas equipes de som.
Nos
bailes de ‘black music’, comandados pelo inesquecível Big Boy e a Furacão 2000,
muito Barry White e James Brown. Todos montados em inesquecíveis sapatos
bicolores ‘Cavalo de Aço’ comprados no Sousa. O meu era em verniz num mix de
verde limão, preto e branco.
A
turma Bicho Grilo, comprava suas roupas na Indian House de Copacabana. A
geração surfista na Galeria River da Francisco Otaviano, quem era ligado em som
e queria as novidades do top tem da Billboard, comprava na loja homônima ou em
sua vizinha Modern Sound.
Líamos
POP, ouvíamos Mundial 860, Tamoio e sua ‘Passarela do Sucesso’, comíamos no
Bob’s – salada de ovo com vaca preta ou os crepes do Gordon. Andávamos de
bicicleta Monark ou Calói, de skate ou carrinho de rolimã-bilha numa cidade
extremamente segura.
Fomos
felizes, crescemos felizes, a felicidade mora em nós!
Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade
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