por João Oliveira Melo |
A narrativa, marcada pela delicadeza e pela observação do cotidiano, revela a beleza escondida nos gestos simples e a profundidade de uma existência silenciosa. Com fotografia precisa e ritmo contemplativo, Dias Perfeitos resgata olhar humanista de Wim Wenders, transformando a rotina de um homem comum em uma celebração poética da vida. As músicas que compõem a trilha sonora, grande parte delas dos anos 1960 e 1970. São canções inglesas, japonesas e norte-americanas que dialogam com a serenidade e a introspecção do personagem, funcionando quase como extensão de sua memória afetiva.
Além da rotina meticulosamente retratada, o roteiro expande a narrativa ao mostrar as conexões sutis que Hirayama estabelece com o mundo ao seu redor: o jovem assistente que o acompanha no trabalho, a sobrinha que foge de casa em busca de abrigo, os usuários anônimos dos banheiros públicos, o senhor com câncer terminal, a irmã distante, o anônimo que joga jogo da velha com ele, o idoso com quem compartilha silêncios no bar e a proprietária do local que o acolhe com familiaridade.
Inspirado no conceito japonês komorebi, expressão que traduz a luz do sol filtrada pelas folhas das árvores, o filme expõe a beleza das pequenas coisas, a presença do instante e a harmonia entre o ser humano e o mundo natural. Wim Wenders transforma essa filosofia em experiência cinematográfica, nos convidando a desacelerar, observar e redescobrir o sentido do cotidiano. Sem recorrer a grandes conflitos ou reviravoltas, Dias Perfeitos aposta na contemplação, no ritmo pausado e na poesia visual para revelar o extraordinário que habita o simples, um delicado contraponto à pressa e ao excesso da vida contemporânea.
João Oliveira Melo é natural de Recife. É aluno do sétimo período do Curso de Ciências Sociais (UFRPE).

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