por Sandra Modesto |
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| Foto de Jr Korpa na Unsplash |
AMOR
Quando eu chegar com marcas de sol,
Beije-me.
Talvez uma ponta do passado
Nos torne um só laço
A poesia à meia-luz…
O jeito devagar, seus braços longos, suas mãos
A apertarem minha cintura.
Quando eu ancorar meu corpo
Nesse pouco tempo, do restante outono
Pedindo palavras nuas.
Quando eu chegar com pegadas de outros amores...
Um jeito, um sono, gritarão meus sonhos.
E então seremos dois corpos rolando em
Ternura, veremos a escassez do sexo...
O beijo dentro do adeus.
QUANDO TUDO FOR SILÊNCIO
Quando tudo for silêncio,
E eu não puder sufocar o medo,
Buscar um peito e um aconchego no tempo.
Então seremos vastidão, uma cidade histórica;
Canção inédita em uma nota em melodia, um solo.
Um soneto, nesse bloco de folia, em uma
necessidade que dilacera.
A espera, a busca, o hábito de catar palavras,
lapidar a brutalidade das ruas.
Quando tudo for silêncio,
A impermanência prosseguirá.
RESTOS DE MIM
O que restou de mim...
Senão o sol tardio da manhã namorando meu
corpo nu exposto ao colchão.
Descobrindo minhas costas largas, entre a cama e a janela, queimando minhas pernas ao me virar de lado.
O que restou de mim...
Senão um banho ardente, no curto espaço do lavabo, e o escovar dos dentes ainda meus.
O hidratante espalhado na minha pele molhada.
O que restou de mim...
Além do café descendo a garganta, o sabor
da erva- doce do bolo de mandioca ciumento,
talvez, por ver meu olhar frenético se voltar
ao pão de queijo corriqueiro da vida.
O que restou de mim,
Senão a estranheza dessa vida nova e velha. Vela
E sopro.
Diante da minha imagem refletida no espelho
pequeno, no qual mal cabem algumas das minhas partes,
Recordo-me: eu roqueira...
Eu a moça que um dia gozou.
O que restou de mim, senão o amor, a dor, o marasmo...
O silêncio das lágrimas invisíveis,
No imenso circuito depois do nada a emoldurar
meu resto.
Sandra Modesto (Ituiutaba, 1961) é escritora e graduada em Letras. Autora dos livros Acenda a luz (Kazuá, 2015), Tudo em mim é prosa e rima (Autografia, 2019), Era sábado (Kotter, 2022), Sonhos e perdas & outros contos (Patuá, 2023) e O tempo da gente (Sinete, 2025). Tem textos publicados em diversas antologias e revistas literárias, tanto impressas quanto digitais.


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