Canção, poema de Allen Ginsberg

  

por Taciana Oliveira__




O peso do mundo

é o amor.

Sob o fardo

da solidão,

sob o fardo

da insatisfação

 

o peso

o peso que carregamos

é o amor.

 

Quem poderia negá-lo?

Em sonhos

nos toca

o corpo,

em pensamentos

constrói

um milagre,

na imaginação

aflige-se

até tornar-se

humano —

 

sai para fora do coração

ardendo de pureza —

 

pois o fardo da vida

é o amor,

 

mas nós carregamos o peso

cansados

e assim temos que descansar

nos braços do amor

finalmente

temos que descansar nos braços

do amor.

 

Nenhum descanso

sem amor,

nenhum sono

sem sonhos

de amor —

quer esteja eu louco ou frio,

obcecado por anjos

ou por máquinas,

o último desejo

é o amor

— não pode ser amargo

não pode ser negado

não pode ser contido

quando negado:

 

o peso é demasiado

 

— deve dar-se

sem nada de volta

assim como o pensamento

é dado

na solidão

em toda a excelência

do seu excesso.

 

Os corpos quentes

brilham juntos

na escuridão,

a mão se move

para o centro

da carne,

a pele treme

na felicidade

e a alma sobe

feliz até o olho —

 

sim, sim,

é isso que

eu queria,

eu sempre quis,

eu sempre quis

voltar

ao corpo

em que nasci.




Canção, poema de Allen Ginsberg









Allen Ginsberg
– escritor, poeta estadunidense, filósofo e ativista. Considerado como uma das principais figuras da Geração Beat nos anos 50, junto com Jack Kerouac e William S. Burroughs e da contracultura que se seguiu depois disso. Ficou conhecido pelo seu livro de poesia Uivo e Outros Poemas. Faleceu em 05 abril de 1997