Três poemas do livro A suspensão de Tomie Ohtake | Letícia Miranda

 por Letícia Miranda__







Sem título


As formas

emendadas nas cores

se deslocam

permanece o gesto

de uma mulher

centenária




Oceano


Instalada a hipnose

tento descobrir como você entrou nos meus olhos

por isso volto à escrita do desenho, à marca das camadas

ao azul e ao preto e aos furos que não consegui fazer

só encontro o rastro do lápis gorduroso

como num susto tiro as travas, vejo a volúpia da grafia

e teu nome ressurge




A suspensão do amarelo ovo


Meus olhos demoram nas formas, nas linhas, nas fissuras

o tatear impossível

não devora as texturas, nem se dissolve na aspereza

pela rachadura atravesso a superfície

há uma dobra que sustenta a deformidade

os pulmões gastos

do tamanho de uma noz

estão cheios, secos e mortos









Letícia Miranda (1996) vive e trabalha no Distrito Federal. É poeta, artista visual e professora. Formada em Letras Português pela Universidade de Brasília, especialista em Fotografia pela Faculdade Unyleya e mestranda em Artes Visuais pela Universidade de Brasília. É autora de “A suspensão de Tomie Ohtake”, publicado pelo selo Auroras, da editora Penalux. Foto de perfil por: Júlia Castello.