Escritas Pretas | E se nós fossemos o filme?

 por Luiz Mauro Leonel Ferreira___





Os do carro blindado tentam fugir, não conseguem; já não tem ares de superior... se cagam.

“...é a guerra civil” (Wilson das Neves)



Propriedade filme de Daniel Bandeira (2022). Quem imita quem? A ficção e a realidade são indissociáveis, elas se chocam a todo tempo. O Brasil nos últimos anos tem sido um filme de terror um ambiente tóxico de perdas e danos, e agora mais que nunca o macro poder o “Mercado” nos querem enterrar vivos/as, como se já não bastasse as perdas trabalhistas, falta de oportunidades e os constantes abusos de poder. Enfim, tudo é deles, é “Propriedade” é deles…



Rica, deprimida, em crise. Marido burguês, cheio de cuidados.  

Eis o carro blindado. 


Eles não têm nada. Nem propriedade nem vida.  

Ali sobrevivem na lida da fazenda que não lhes devolve nada. 

...mas a terra já é deles. Pagaram com o olho, o dedo, o serviço... e eles, o carro blindado, vão vender. 

 

Matam, quebram, apropriam-se de coisas... ela, a que sobrou no carro blindado, dentro de sua quase loucura e destruída, segue sua vida...  nada aconteceu. 

 

E se o filme continuasse? 

...chega a polícia 

...libertam a do carro blindado 

...ela, a do carro blindado, retoma seus ares de dona da terra. Assisti a tudo calada, em sua quase loucura. 

 

...eles são procurados, buscados, caçados em todos os cantos.  

São perfilados, com algumas rajadas, massacrados.  

Restam corpos e sangue. 

 

Ela, a do carro blindado, chega em seus ares de ex-proprietária para a inauguração do Hotel Fazenda. Lindo!!! 

Nada aconteceu. 

 

E se nós fossemos o filme?

...a do carro blindado: burguesia, branquitude medíocre e supremacista, latifundiários, empresários desonestos, governo corrupto, mídia manipuladora, sociedade colonial e genocida... todos racistas disfarçados em antirracistas gourmetizados.

...os que não tem nada: empobrecidos, pretos, brancos também empobrecidos, povo em situação de rua, povos indígenas, ciganos, comunidade LGBTQIA+...

...mas tudo é deles.

Construíram com suas mãos, seu suor, seu sangue, sua dor... eles, os do carro blindado, não lhes devolvem nada, os roubam.

Os que nada tem se juntam, vão à luta!

Vão com o que tem: pau, pedra, fogo... alguns sabem fazer bomba, outros lutam capoeira, tem os que sabem sabotar carros, emperrar máquinas; tem os que falam, berram, criam palavras de ordem e as cantam em seus raps, sambas, poesias...

Juntos não tem mais medo...

Os do carro blindado tentam fugir, não conseguem; já não tem ares de superior... se cagam.

“...é a guerra civil” (Wilson das Neves)


PROPRIEDADE (2022) - Teaser from Vilarejo Filmes on Vimeo.







Luiz Mauro Leonel Ferreira nasceu em São Paulo, SP, em 05 de novembro de 1953. É poeta, ensaísta e filósofo. Sempre viveu em São Paulo, onde estudou na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira dos padres jesuítas; com Pós graduação em Comunicação pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e Mestrado em educação pela Faculdade de Educação da USP. Tornando-se professor de Filosofia, Sociologia e Coordenador de cursos e projetos na rede estadual de ensino, por meio de concurso público.  Poeta, pensador nômade, ativista preto com uma poética inquietante e crítica;  escritos ainda não publicado. Atualmente tem uma constante e presente produção de seus "Poemeus" nas redes sociais. Com publicações de artigo e poesias em revistas, encontramos ali um forte processo inquietante no que tange o pensamento humano.