P’ra’lém de porreira faz-se bué de fixe à Saramago

 por Carlos Monteiro__





Foto: Carlos Monteiro



Segunda parte


(...continuação)


as te peço pelas razões onde estão para aonde irão mataste-me era 36 ressuscita-me sou Poeta ou porque sou Bardo mataste-me em 36 sobrevivi a tua morte matada cá estou vívido na Flor de Lácio não morri em 36 não morri não mataste-me resulta-me gosto do Bragança da Alecrim da Santa Catarina e do Tejo mas não apetece o Prazeres salva-me dos coscuvilheiros salva-me das águas turvas e dos labirintos sombrios faz-me ortônimo mataste-me ressuscita-me quero Lídia em meus braços em catre escolhida talvez Marcenda quero-me onde se acaba o mar d’antes navegado lá está a terra não morri em 36 não tenho prazeres para o Prazeres não morrerei jamais tira-me do bico desse corvo tira-me do peido mestre tira-me do inferno dantesco onde está o Tarrafal? onde está prestes? o que fazem no estrangeiro? estrangeiro dize-me fala a ti de rastros postos e na coragem na viagem da noite alta deixamo-los no dialogo profundo das existências eu Back e Ruy em viagem no elefante pequenas memórias de Caim bagagens dos viajantes para trás delicadamente repousados às prateleiras a esperar os mais ávidos legentes já não chove e vamos a descer pela Garrett em direção às nossas existências cada qual em seu caminho eu com meu chapéu de chuva azul guardado atacadores afroixados e não desatados atravesso a passadeira  vejo Adamastor e a Figueira e se uma gaivota viesse? paira um cheiro de alecrim Lavra Glória Bica Baixa Alto Santa Justa Santa Maria Maior santa ignorância ai Mouraria Chiado Jerónimos São Jorge, Salve Jorge memorialista Alfama uma viagem à Portucale cantarolo Chutos & Pontapés Mafalda Zambujo, Moura e Abrunhosa eu preciso de mais preciso de mais embarca em mim tenho pressa tenho a ti que lavas no rio apanho o elétrico sete na paragem estou no ascensor da Bica quase em meu T3 para já ficam as lembranças para si em algures ficará se calhar além’ar dá cá um abraço ó musa do meu fado na morte a cegueira é igual para todos...



*P’ra’lém de porreira faz-se bué de fixe à Saramago do livro “Todos os Saramagos” – Páginas Editora



Fotocrônica









Fotos: Carlos Monteiro






Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.