Leonardo Simões lança Folha de Rosto, romance em poemas sobre identidade, amor e conflitos sociais

por Mirada__


                                               
Leonardo Simões lança “Folha de Rosto”, romance em poemas sobre identidade, amor e conflitos sociais

O escritor mineiro radicado em São Paulo Leonardo Simões lança seu novo livro, Folha de Rosto, publicado pela Mondru Editora, obra que une poesia e narrativa para refletir sobre identidade, racialidade e relacionamentos afetivos em meio à turbulência política do Brasil recente. Escrito entre 2018 e 2022, o livro nasceu como um desdobramento da peça Arquipélago, vencedora do III Concurso de Dramaturgia Flávio Migliaccio, e ganhou forma como um “romance em poemas”, estruturado em capítulos fragmentados.


A trama acompanha a trajetória de um casal cuja intimidade é atravessada por pressões externas — políticas, raciais e culturais — num cenário marcado por tensão social. Segundo o autor, a obra propõe a reflexão sobre até que ponto os conflitos de um relacionamento são de ordem estritamente pessoal. “Um casal termina somente pelo relacionamento entre os dois, ou a influência externa tem esse poder?”, provoca Simões.


Com uma escrita que transita entre o lírico e o narrativo, Folha de Rosto também aborda a busca por uma voz literária, processo vivido por um dos personagens e pelo próprio autor. Leonardo destaca que seu contato inicial com a escrita foi através da poesia ainda na infância, e que, durante a finalização do livro, releu toda a obra de Ferreira Gullar, a quem considera uma referência central: “Ele é mais do que uma referência, é um guia”, afirma.


A estrutura fragmentada do livro ecoa a fragmentação identitária do protagonista, e o título remete tanto ao rosto como espaço simbólico quanto à primeira página de um livro — uma superfície onde se projetam histórias, marcas e revelações.


Com formação em Educação, Arte e História da Cultura e experiência em publicidade desde 2014, Leonardo Simões alia disciplina profissional à liberdade criativa. Ele reconhece Folha de Rosto como um marco em sua trajetória literária. “Foi importante para experimentar a literatura pelo outro lado da bancada, entender melhor como abordar alguns temas”, comenta.


Sobre o autor

Leonardo Simões (Patrocínio, MG, 1990) é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduado em Marketing e Comunicação Integrada. Radicado em São Paulo desde 2010, trabalha com criação publicitária desde 2014. Venceu o III Concurso Nacional de Dramaturgia Flávio Migliaccio (2024) e foi finalista do Prêmio Solano Trindade no mesmo ano. "Folha de Rosto" é seu primeiro livro. Agora, o autor finaliza seu primeiro romance e segue como colaborador do Jornal Nota, onde publica resenhas teatrais.


Confira um trecho de “Folha de rosto”:




pretinho,

me chamavam de pretinho.


Minha mãe não gostava, meu pai não ligava.

Meu primeiro e-mail, feito quando a internet era só um

fio na madeira,

era nome + pretinho. E todos os arrobas que

emprestavam conexões com os mundos não me

enxergavam de outro modo.


Quando se é pretinho, cabe-se em todos os esconderijos.

Escondem as ordens de fora, os mortos do extremo e

aquela maldição que a caixa do supermercado diz ao


dono quando dois meninos pretinhos entram no corredor

de bolachas/biscoitos.

Chama-me pretinho, e eu obedecerei. Num é?

Pois foi.

E aí, ficou nisso a vida inteira…

Essa indecisão de cor.

Pretinho é camaleão, sabe?

Fica mais claro conforme o ambiente onde o colocam.

Na casa da minha avó de parte de mãe, eu não era

pretinho.

Era moreno.