Rosas de Chumbo: Daniela Bonafé transforma dor e memória em romance literário sobre mulheres silenciadas pela ditadura

 por Mirada__



Com uma narrativa que mescla literatura, história e denúncia, a escritora, professora e militante dos Direitos Humanos Daniela Bonafé lança Rosas de Chumbo (Editora Toma Aí Um Poema), um romance híbrido que recria, por meio da ficção, os desejos, sonhos e lutas de mulheres assassinadas pela ditadura militar brasileira.

A obra propõe revisita a memória coletiva e dar voz a cinquenta mulheres silenciadas pelo regime de exceção. Dividido em 13 capítulos, o livro adota uma estrutura literária experimental, incorporando diferentes formas de expressão como poesia, crônica, diário, conto, música e teatro. Essa pluralidade estilística permite que cada personagem ganhe uma identidade própria, em contraste com a desumanização promovida pela violência de Estado.

Rosas de Chumbo é também um livro-intervenção. Através de QR codes, o leitor tem acesso a playlists da época e a trechos de notícias históricas, construindo uma experiência imersiva que aproxima a ficção da realidade vivida por essas mulheres. Segundo a autora, a ideia é que o romance funcione como instrumento de memória e alerta, para que os erros do passado não se repitam.

O livro conta ainda com prefácio e posfácios assinados por nomes reconhecidos na militância pelos Direitos Humanos e na literatura: Monique Bonomini, Amelinha Teles e Mell Renault. A orelha é assinada por Júnia Paixão. Todos os textos ressaltam o rigor da pesquisa realizada por Bonafé, bem como a seriedade e o cuidado na elaboração de cada narrativa.

Autora de nove livros e premiada por sua produção literária, Daniela Bonafé transita entre poesia, contos e literatura infantojuvenil. Rosas de Chumbo, no entanto, marca um ponto de inflexão em sua trajetória. “Foi um chacoalhão, fui tomada por ele”, diz a autora sobre o processo de escrita, que exigiu não apenas aprofundamento teórico, mas também intenso envolvimento emocional.

Mais do que um romance, Rosas de Chumbo é um tributo à resistência e um chamado à memória — uma tentativa de devolver humanidade às histórias que o autoritarismo tentou apagar.

Capítulo 4 do livro “Rosas de Chumbo” (Ed. TAUP), de Daniela Bonafé*

para Alceri Maria Gomes da Silva


Ceci,

Tenho saudade.

Aqui em Cachoeira nada mudou nesses meses em que você

está fora.

Papai e mamãe estão preocupados, ainda mais agora, que

decidi ir para São Paulo também.

Teu ex-chefe da Micheletto mandou te avisar que depositou

seu último salário que estava atrasado. Acho que vai ajudar

você com as despesas.

A Tatá está grávida. Não sei como ela conseguiu pensar em ter

um filho, com a gente vivendo tudo isso.

Não sei se essa carta vai chegar até você ou se eu chegarei

antes para te dar um abraço.

Me espera.

Beijo,

Val

 

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