Os
dias no Rio têm amanhecido com um certo ar de mistério, empoderados, maduros,
lindos, absolutamente reais. Bem capaz de ser uma forma de homenagear Honoré de
Balzac, quando se completam 175 anos desde que nos deixou em 18 de agosto de
1850 a caminho de Aruanda.
Alvoreceres
balzaquianos, um “Le Lys dans la vallée” orvalhado. Em busca, quem sabe, das “Illusions
perdues”, ou, talvez, da “La Recherche de l'absolu”.
O
fato é que, para homenageá-lo, a natureza, sutilmente, elegantemente,
encantadoramente, tal qual “La Femme de trente ans”, pediu que viessem as
fragatas em seu balé. Já não mais um ensaio, mas a apresentação de estreia para
uma plateia absolutamente seleta. Vieram acompanhadas pelos urubus-rei e de
alguns gaviões-carijó. Numa coreografia integrativa, bailaram, bailaram,
bailaram sobretudo, creio eu, para esquecerem “La comédie humaine” destes
tempos trevosos nos quais vivemos atualmente. Como é cruel bailar assim.
Com
açúcar e muito afeto seguiram bailando pela amplidão. Num instante de
ilusão, voaram, bailaram na fumaça de um mundo novo, fazem um novo mundo na
fumaça.
Os
irmãos Valle trautearam na voz de Cláudia: “Não confie em ninguém com mais de
trinta anos / Não confie em ninguém com mais de trinta cruzeiros / O professor
– Pasquale e seus auxílios luxuosos – tem mais de trinta conselhos / Mas ele
tem mais de trinta, oh mais de trinta/Oh mais de trinta, oh mais de trinta...”.
Foram
retrucados por Miltinho em versos de Luiz Antônio: “...No meu olhar, na minha
voz / Um novo mundo, sinta! /É bom sonhar, sonhemos nós / Eu e você, Mulher de
Trinta / Amanhã, sempre vem! / E o amanhã pode trazer alguém!”
O
Sol, saiu tímido através da cumulus. Ensaiou um breve malabarismo nas encostas
das montanhas arariboianas, tingiu o céu em tons magenta-alaranjados-doirados e
se recolheu com vergonha do bailado tão belo e da sutilidade das cariocas com
mais de trinta coloridas pelo sol, doiradas pelos reflexos marinhos ou
simplesmente desfilantes em suas elegâncias sinceras.
Não
se sabe ao certo se o Astro-Rei se esconde entre as nuvens por tantos
descalabros que se tem assistido de misoginia, machismo, intolerância, etarismo
e misoginia, encimado no éter ou se envergonhado com a beleza sutil e discreta,
um breve sussurrar, tão bom perfume da mulher de 30, de 40, de 50, de 60…
Aliás,
lugar de mulher é onde ela quiser estar, onde ela se empoderar e, sobretudo,
onde ela é simplesmente mulher.
Carlos Monteiro é fotógrafo, cronista e publicitário desde 1975, tendo trabalhado em alguns dos principais veículos nacionais. Atualmente escreve ‘Fotocrônicas’, misto de ensaio fotográfico e crônicas do cotidiano e vem realizando resenhas fotográficas do efêmero das cidades. Atua como freelancer para diversos veículos nacionais. Tem três fotolivros retratando a Cidade Maravilhosa.
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