por Germana Accioly |
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Foto de Jr Korpa na Unsplash |
- Já rezei o Lembrai-vos aqui. Vai dar tudo certo.
A frase me valia como um escudo protetor. Hoje ela me disse que segue energeticamente ao meu lado, velando por mim. Sinto falta de mãe estes dias, sinto saudade de ser filha.
Faz seis meses que ela partiu e a sinto cada vez mais perto de mim, numa dimensão que ainda não compreendo. Tenho aprendido a respeitar meu sentir, a respeitar minha porção filha, menor.
A partida de minha mãe me fez estranhamente ficar maior, como uma árvore que expande sua copa para dar mais sombra, mas também me fez entrar em contato com a criança lúdica, a menina-sonho que fui.
No final do meu dia, voltando para casa, cansada, entrei no Uber e no rádio ligado ouvi a locutora dizer: essa música vai para você que tem saudade da parceria de Elis Regina e Adoniram Barbosa. Era "Tiro ao Álvaro", a preferida da minha mãe.
Os signos e os símbolos que estudo não dão conta de traduzir essa sutileza que habita em mim. Estou atenta aos sinais. Aprendendo que existem conexões, relações e impressões que não se dissociam de nós.
A ancestralidade mora nas células, na alma, em cada vez que me olho no espelho, no que ela me ensinou, nos sonhos que me embalam, no meu envelhecer e nas orações que me trazem para o colo da minha mãe.
GERMANA ACCIOLY, diretora de relações estratégicas e comunicação da Escola da Democracia, é jornalista, especialista em Política e Representação Parlamentar pelo CEFOR em Brasília e em Política e Cultura pela Agecif, Paris. É autora do Relatório dos Mandatos Ativistas no Brasil (2023). É cronista, publicou textos em diversas revistas e sites e lançou seu primeiro livro, “Não é Sobre Você”, em 2021. Participa da coletânea “Crônica Popular Brasileira”, ambos pela editora Mirada.
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