Seis perguntas para Pedro Matos

 por Welligton Amâncio* |



Seis perguntas para Pedro Matos — Escritor delmirense discorres sobre seu novo livro, seus autores e obras prediletos e sobre o seu futuro na literatura. Pedro Matos, com 19 anos, é residente de Delmiro Gouveia, Alagoas. Desde muito cedo, teve contato com a literatura, uma paixão que se ampliou ao se aprofundar em Filosofia e Geografia. Idealmente, almeja dar gênese para uma nova literatura nordestina, que se atente às transformações atuais, com seus novos paradigmas, melhorias e árduos desafios.


1. Você escreveu um livro recentemente. Trata-se de um romance. São raros os romances escritos em Delmiro Gouveia. Parabéns pelo feito. Do que se trata seu novo livro?


Desde já agradeço muito escutar isso. Fico muito feliz por saber que algo que produzi tem alguma base ou profundidade para vocês, que foi o que desejei. Admito que seja um livro incomum para mim, nesse sentido, porque pelo tamanho (74 páginas), parece ser mais um conto longo — como o mito de Chutulu — ou uma novela. Só que pela estrutura da obra, parece mais um romance, porque é realmente uma mistura muito louca entre as minhas referências. 

Panthalassa é a história de Campanária, uma cidadezinha no sertão pernambucano que passa por um conflito político que envolve Garcia, o coronel local, e o GMLP (Guerrilha Marxista de Libertação Pernambucana), um grupo comunista que empreendeu diversos ataques pelo estado. De forma absurda, o início do conflito traz consigo um fenômeno estranho. Campanária, agora diante de um vasto oceano rodeado por uma criatura gigantesca e misteriosa, se torna uma ilha em meio ao mar.


2. Quais os seus livros e autores prediletos, as suas influências e inspirações, especialmente para este livro, por favor?


A ideia desse livro surgiu em dois momentos. Um no começo do ano, quando conheci e li H. P.Lovecraft, pois até então só tive ideias para obras mais realistas, naturalistas, “materiais”. Então ter lido algo mais mítico e além do natural — Esse horror cósmico — abriu muito a minha mente e perspectiva sobre obras que eu poderia produzir. O segundo momento ocorreu após meu contato mais aprofundado com a filosofia francesa do século XX, em especial, dois autores: Albert Camus e Jean Paul Sartre. Do primeiro, li “O Estrangeiro”, “O Mito de Sísifo”, “A Peste” e “O Homem Revoltado”. Do segundo, “A Náusea”, “Entre Quatro Paredes” e “Existencialismo é um Humanismo”. Gostei muito do contato que tive com o absurdismo. Percebi depois que a filosofia camusiana combinava com a proposta que tinha em mente para o horror cósmico sertanejo que idealizava. No fim, gostei muito da mistura entre “Literatura Regionalista”, “Absurdismo” e “Horror Cósmico, outro que deu vida para Panthalassa, minha primeira obra.”


3. Quanto tempo para conceber o livro? O seu livro foi esboçado em sua mente, ou em sketches, ou ainda nasceu de uma ideia já pronta?


No aspecto conceber, eu diria que seis meses. Como eu disse, o contato com Lovecraft semeou a ideia. Nesse primeiro momento tentei escrever um rascunho da obra, que fracassou absolutamente, pois não tinha o enredo (documento que sempre escrevo antes de começar uma obra em si, em que destaco as características dos personagens, paisagens, encadeamento dos acontecimentos…) para me guiar. Com uma maior maturidade, em junho escrevi o enredo e comecei a escrevê-la.


4. Como construiu os personagens?

 

Sobre os personagens, tenho uma curiosidade interessante. Os nomes de alguns personagens (como Paulo Afonso e Euclides Garcia) foram frutos de um método próprio em que abria uma lista das cidades da Bahia e pegava os nomes que mais me interessavam. O nome Paulo Afonso é mais clássico, pois essa cidade vizinha sempre fez parte das conversas que me rodeiam. Euclides Garcia vem de “Euclides da Cunha”, e é uma própria referência para a figura histórica.


5. Há personagens baseados em pessoas e experiências?


Os personagens, em certa medida, possuem traços de pessoas conhecidas. De preferência Paulo Afonso, eu tive como base dois dos meus melhores amigos, grandes marxistas-leninistas atuantes. Mas no geral, e propositalmentel, alguns outros personagens são arquétipos muito bem conhecidos na literatura nordestina, o coronel rabugento, a sua filha estudada no Rio, os jagunços, o líder revolucionário, o prefeito covarde e amoroso, o jovem da classe média recifense que trabalha no funcionalismo público do interior. Todos eles são figuras não tão estranhas para alguém que lê e admira a literatura nordestina. As paisagens da obra são especiais para mim. Sendo um geógrafo que ama a sua área, as “paisagens”, por muito, são o que me dão boas ideias. Nesta obra, os pediplanos, o Inselberg imponente, a primeira vez em que Paulo Afonso viu as colinas verdejantes do litoral. Nenhuma paisagem está de forma aleatória. Pode-se dizer que além de literário, Panthalassa é um ensaio tipicamente geográfico e filosófico.

Muitíssimo obrigado pela contribuição. Temos certeza que os leitores gostarão desta obra, pois éinteressante,e segundo se confirmou em minhas leituras. Parabéns pela realização e desejamos sucesso a você.


6. Poderia escrever um pouco sobre o que você espera de hoje em diante como escritor, quais os objetivos vindouros, projetos, expectativas quanto ao novo livro, etc.


Particularmente, o ofício “escritor” é um mistério nublado que ainda tento entender. É algo tão visceral, mas também opaco. No sentido dos projetos, sinto que me encaminho ao meu tempo. Sou jovem, de uma nova geração nordestina. A literatura regional do século passado produz em mim uma dialética entre o novo e o antigo, a esperança e a pessimismo. Há um novo Nordeste que fora pouco abordado pela nossa arte geral, e sinto que explorar isso, é algo que me apetece. Panthalassa é só o começo disso, é visivelmente o desmanche do velho, ou como Albuquerque pensa, é só o Nordeste sendo rasgando em pedacinhos.





*Wellington Amâncio da Silva — Membro do corpo editorial da Utsanga — Rivista di Critica e Linguaggi di Ricerca (Itália/ISSN: 2421-3365); da comissão editorial do Academic Journal of Interdisciplinary Studies (MCSER/ISSN: 2281 3993) e da comissão editorial do World Journal of Education and Humanities (Scholink/ISSN: 2687-6760) Revisor/avaliador da Revista de História da UEG; Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental pela Universidade do Estado da Bahia —  UNEB; Especialista em Ensino de Filosofia (UCAM); Graduado em Pedagogia e em Filosofia (UNEB; Metodista).