Víúvas de Sal | Cinthia Kriemler

 

por Taciana Oliveira__

 


“Viúvas de Sal”  (Editora Patuá, 2023) de Cinthia Kriemler evoca trajetórias marcadas pela constância da violência concebida à existência do gênero feminino. Muito mais que narrativas explícitas e dolorosas, a autora nos oferece personagens com perfis psicológicos desenhados em corpos atravessados pela realidade omissa que nos afoga diariamente. São ritos de passagem de uma lógica patriarcal abusiva, repulsiva e degradante. Meninas silenciadas, expostas a traumas, ao abuso sexual, à exclusão social e à alienação religiosa. Mulheres “que aprenderam a conter a raiva, a revolta, as lágrimas, a piedade”.

 

Não se enganem, Porto do Xaréu e sua Cooperativa de Pescadoras existem, e não estão tão distantes de nossas vidas: são sombras aprisionadas no fundo de um mar escuro. Fantasmas incapazes de retornar à superfície para respirar. Ninguém escuta os seus gritos inaudíveis. Ninguém enxerga as suas mãos estendidas buscando ajuda.

 

A escrita de Cinthia Kriemler foge da neutralidade. Ela é política, corajosamente ativista e expõe a ferida em carne viva. Mas por favor não agreguem à obra o rótulo excludente de “destinado a um público específico”. Viúvas de Sal é leitura obrigatória e necessária para todos, principalmente para aqueles que insistem em não escutar ou enxergar a misoginia que mata e abençoa os perversos. É também uma aula sobre sororidade, essa palavra que precisa sair do dicionário e verdadeiramente ser aplicada para além dos discursos feministas.

 

Quanto a João Galafuz, que ele descanse em paz e que uma nova tempestade se anuncie sem naufrágios e mortes, mas sob o brilho intenso da igualdade e respeito às mulheres.

 

*Texto originalmente publicado na orelha do livro

 

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Cinthia Kriemler é carioca e mora em Brasília. Autora, pela Editora Patuá, de O sêmen do rinoceronte branco (Contos, 2020). Tudo que morde pede socorro (Romance, 2019); Exercício de leitura de mulheres loucas (Poesia, 2018); Todos os abismos convidam para um mergulho (Romance, 2017) – finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018; Na escuridão não existe cor-de-rosa (Contos, 2015) – semifinalista do Prêmio Oceanos 2016; Sob os escombros (Contos, 2014); e Do todo que me cerca (Crônicas, 2012). Organizou a antologia de contos Novena para pecar em paz a convite da Editora Penalux, em 2017. Tem textos e poemas publicados em diversas antologias e em revistas literárias. O romance Viúvas de Sal (Editora Patuá, 2023) está disponível para pré-venda no site da editora: clica aqui





Taciana Oliveira é editora, cineasta e roteirista.